Memórias de uma analisanda de Sigmund Freud

Memórias de uma analisanda de Sigmund Freud

Com texto do psicanalista Antonio Quinet, a montagem é baseada em relatos da poetisa Hilda Doolittle sobre seu tratamento psicanalítico e amizade com o do criador da psicanálise

dezembro de 2015

Nos anos 30, a escritora americana Hilda Doolittle (1886-1961) mudou-se provisoriamente para Viena a fim de fazer sessões diárias de análise com Sigmund Freud. Ela manteve um diário durante o processo, em que fez anotações sobre as conversas com o terapeuta, além de relatar sonhos e pensamentos. Esses escritos estão entre os poucos depoimentos de pacientes de Freud e oferecem uma rica visão do método psicanalítico, da perspectiva do analisando. Junto com correspondências da escritora, esse material foi base do texto de Hilda e Freud, peça escrita pelo psicanalista Antonio Quinet.

Com Bel Kutner no papel de Hilda e o próprio Quinet no de Freud, a montagem se aprofunda na relação dos dois, que além de analista e analisanda se tornaram grandes amigos. Hilda foi artista, bissexual, quebrou paradigmas sociais na sua época. Seu encontro com Freud, a quem ela chamava “o médico irrepreensível”, foi, segundo ela, “uma grande viagem”, conduzida por um “curador de um grande museu arqueológico”. “Hilda era uma mulher muito sensível, que buscou sua salvação na arte e na psicanálise, numa época que esta estava florescendo, enquanto o mundo se deteriorava por conta das guerras”, comenta Bel Kutner.

 

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Pesquisador das relações entre teatro e psicanálise, Quinet é autor de vários textos que apresentam ao público um pouco da história e das bases das teorias sobre o inconsciente, como a série Variações freudianas, inspiradas em casos clínicos clássicos, e a peça Abram-se os histéricos, que mergulhou no universo das histéricas tratadas por Freud. Já apresentada em Londres e em Buenos Aires com atrizes convidadas, Hilda e Freud fica em cartaz no Rio de Janeiro até final de dezembro. “As pessoas vão ver um Freud em ação de uma forma inimaginável através da visão de uma paciente, e não de seus próprios relatos”, promete Quinet. Em tempo: em 2012 a editora Zahar traduziu uma obra de Hilda Doolittle – Por amor a Freud–, sobre sua experiência como analisanda e amiga do psicanalista.

 

Fonte: Revista Viver Mente e Cérebro– ano XI – Edição 275 –Dezembro 2015

 

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Efeitos iatrogênicos da psicanálise

É fundamental que o analista avalie o peso de suas intervenções, seja por meio de palavras ou de silêncios

Christian Ingo Lenz Dunker

Iatrogênese é o efeito adverso criado por um tratamento, seja ele da ordem da imprudência, negligência ou imperícia, seja ele decorrente de consequências malfazejas que o uso de uma substância ou procedimento pode vir a acarretar para o paciente. Apesar de sua origem médica, admite-se que todo e qualquer tratamento possui eventuais efeitos desse tipo, mas ainda existe uma grande leniência nessa matéria quando consideramos a psicoterapia ou a psicanálise. Isso ocorre em parte porque não imaginamos que palavras podem causar grande mal a uma pessoa, sendo a principal objeção levantada em termos de ineficácia, desperdício de tempo ou dinheiro. Aliás, foram esses os motivos que levaram Freud a propor um período preliminar de tratamento, um tratamento de ensaio, antes de começar propriamente o processo. Ele levantava dois motivos para isso. O primeiro é poupar tempo e dinheiro aos envolvidos decorrentes do início de um tratamento sem que suas condições elementares estivessem dadas: alguma simpatia e confiança entre analista e analisante, a avaliação clínica de que os sintomas são responsivos à psicanálise e o asseguramento de que as condições para a empreitada, que exige certo empenho e dedicação, estão presentes. O segundo motivo é que o início de um tratamento, rapidamente interrompido, gera um efeito de descrença e de decepção, no paciente, quanto à própria possibilidade de livrar-se de seu sofrimento. Isso constitui, podemos dizer, um efeito iatrogênico da psicanálise: a criação de um estado de desesperança e acomodação aos próprios sintomas.

Mas há motivos para pensar a iatrogênese, hoje, em outros termos. Prometer resultados e fazer uma elevada medida de nossa tarefa, como se ela fosse capaz de curar toda covardia, desperdício e miséria humana, é de uma imprudência tentadora. Atender

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pacientes sem uma longa e periodicamente renovada análise pessoal, ademais apoiada por supervisão, é um caso banal de negligência. Encontramos combinações entre imprudência e negligência naqueles que desfazem da importância do diagnóstico, que atendem inúmeros membros de uma mesma família, que derrogam o auxílio de outros saberes e práticas ou que disseminam a crença de que sem a psicanálise o paciente não terá outros recursos para enfrentar suas dificuldades, fazendo-se assim de imprescindíveis e estimulando a dependência. Contudo, o tema mais controverso é certamente o da imperícia. Nele temos de avaliar o peso de nossas intervenções feitas por palavras e seus infinitos contextos.  Nele quase não temos como distinguir o peso decisivo de um silêncio bem colocado de uma mera ausência desatenciosa. E se o paciente é a medida de todas as coisas, e de todas as palavras, não seria o caso de considerar também os limites de que mesmo uma psicanálise bem conduzida a seu termo seria iatrogência simplesmente por lançar o sujeito de volta em um mundo doente? No qual ele sofrerá ainda mais?

 

Fonte: Revista Viver Mente e Cérebro– ano XI – Edição 275 –Dezembro 2015

 

 

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Um em cada três adolescentes no país sofre de transtornos mentais comuns

Pesquisa mostra que 30% dos jovens têm problemas que podem levar à depressão

 

RIO – Quase um em cada três adolescentes brasileiros sofre de transtornos mentais comuns (TMC), caracterizados por tristeza frequente, dificuldade para se concentrar ou para dormir, falta de disposição para tarefas do dia a dia, entre outros sintomas. Se não tratado, um problema desse tipo pode evoluir para distúrbios mais sérios.

O dado vem de uma pesquisa inédita no país, que analisou informações de 85 mil jovens de 12 a 17 anos de escolas públicas e privadas de 124 municípios com mais de 100 mil habitantes. O objetivo do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica) foi, justamente, levantar a disseminação de fatores de perigo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Entre esses fatores, estão os TMC, por causa do desequilíbrio hormonal que podem provocar, além de outros como obesidade, hipertensão e tabagismo.

Os sintomas que caracterizam esses transtornos não são suficientes para um diagnóstico de depressão, o que dificulta a sua identificação — psiquiatras chegam a classificá-los, muitas vezes, como “silenciosos”. Mas os TMC podem levar estudantes até a abandonar suas escolas, por dificuldade de adaptação. Também podem estar na raiz de distúrbios como depressão, dificuldade de relacionamento e abuso de drogas no início da vida adulta.

Uma das coordenadoras da pesquisa Erica, a epidemiologista Katia Bloch, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que, embora seja difícil determinar as causas do elevado índice de transtornos — por se tratar de um estudo quantitativo —, os resultados acendem um alerta:

— É uma via de mão dupla: tanto os transtornos mentais comuns podem ser fator de risco para doenças cardiovasculares, por conta de uma mudança nos hormônios, quanto essas doenças cardiovasculares podem acabar provocando algum transtorno mental. Quem tem obesidade, por exemplo, pode vir a sofrer de TMC ou até depressão como consequência — destaca ela.

 

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Conduzida entre 2013 e 2014 por várias universidades brasileiras, e financiada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa mostra não apenas que 30% dos adolescentes sofrem desses transtornos (o número é considerado alto por especialistas), como também indica que o problema piora à medida que as pessoas crescem.

Na faixa etária de 15 a 17 anos, os transtornos mentais comuns foram identificados em 33,6% dos estudantes, enquanto entre os alunos de 12 a 14 anos a taxa é de 26,7%.

Ainda de acordo com o levantamento, o índice é sempre maior entre as meninas, em todos os recortes de idade. Aos 12 anos, 28,1% delas têm algum tipo de TMC. O ápice acontece aos 17 anos, quando 44,1% das adolescentes brasileiras apresentam o problema.

Os resultados do Erica levaram os pesquisadores a produzir 13 artigos, cada um deles abordando um fator de risco diferente para o desenvolvimento de doenças do coração. Autora do artigo sobre transtornos mentais comuns, a psiquiatra e epidemiologista Claudia de Souza Lopes, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica que o levantamento foi feito com a utilização do Questionário de Saúde Geral, uma ferramenta internacional de avaliação psicológica.

Os adolescentes tiveram que responder sobre aspectos como tristeza e dificuldade de dormir, sempre levando em conta os 15 dias anteriores. Os transtornos mentais comuns eram identificados com base na frequência com que os sintomas apareciam nesse período em cada questionário. Foi uma surpresa detectar que 30% dos jovens brasileiros se encaixam nesse perfil.

— Estudos internacionais costumam mostrar que 25% dos adolescentes apresentaram algum transtorno no ano anterior às pesquisas. Nosso trabalho mostrou um índice mais elevado,

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principalmente tendo em vista que o período analisado foi de apenas 15 dias — avalia Claudia. — Já era esperado que meninas apresentassem mais esse problema. Mulheres têm mais sentimentos depressivos, sofrem mais com as transformações do corpo. Esse tipo de dado já está bem estabelecido na literatura médica. Há algumas características quase inerentes ao sexo. Enquanto os homens são mais afetados por doenças como esquizofrenia, por exemplo, mulheres sofrem mais de depressão.

Segundo a pesquisa, esses transtornos são mais frequentes em alunas de escolas privadas. Entre os 15 e 17 anos, 46% das garotas que frequentam colégios particulares apresentaram o problema, enquanto o índice é de 42% nas escolas públicas, para a mesma faixa etária. O estudo não abordou as razões dessa diferença.

— Esperamos que nosso trabalho sirva de base para que outras pesquisas se aprofundem nesse tema — comenta Claudia.

De acordo com ela, é importante identificar esse tipo de transtorno ainda na adolescência para evitar sua evolução para problemas mais graves, como o abuso de drogas e a depressão.

— Acredita-se que adolescentes que apresentam esses transtornos têm risco maior para desenvolver tabagismo e abuso de outras drogas. Mas isso é algo que ainda temos que investigar — pondera. — Na adolescência, é frequente a ocorrência de bullying, obesidade, a busca pelo corpo ideal e todas as pressões decorrentes. Identificando os subgrupos de mais risco para desenvolvimento de transtornos mentais comuns, conseguiremos agir com mais precisão para ajudar esses adolescentes.

‘MUITO SENSÍVEL AO EXTERIOR’

Hoje aos 18 anos, a jovem Carla (nome fictício) teve uma adolescência problemática. As dificuldades para lidar com o mundo a seu redor — ela fugiu de casa algumas vezes quando ainda tinha 13 anos, ficando “desaparecida” por horas — evoluíram para um quadro mais sério. Aos 16, começou a usar diferentes drogas, o que piorou a situação. Um ano depois, a jovem interrompeu a escola, adiando sua participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tratar de suas questões.

— Desde criança, eu era muito sensível ao exterior, chorava por qualquer coisa e aprendi cedo a manipular as pessoas — descreve ela. — Mas foi na adolescência que tudo piorou, porque passei a ter uma percepção mais clara das pessoas e do mundo e, na tentativa de me definir, acabei entrando num processo de autodestruição.

por Clarissa Pains

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/um-em-cada-tres-adolescentes-no-pais-sofre-de-transtornos-mentais-comuns-19356875

 

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Carta a quem me magoou

Eu escrevo esta carta para você, mas você nunca a lerá. Você me fez mal, muito mal. Na natureza não há justiça, e eu continuo a sofrer. Mas hoje eu percebi que, de alguma forma, eu tenho que tirar de dentro de mim a profunda tristeza que sinto, e é isto o que eu vou fazer agora, nesta carta a quem me magoou.

Desconfio do rancor e da mágoa porque estes não são bons amigos, então não me querem bem. Além disso, o ressentimento e a mágoa levam ao medo, e este é o que precisamente necessita desaparecer. Não que eu sinta medo de você, temo sim ter que reviver o meu sofrimento e voltar a cair no mesmo erro.

Então, decidi que tenho que enfrentá-lo, cara a cara, e falar tudo o penso; se apenas em minha mente ou não, vou fazer valer esta oportunidade. Se eu diminuir este medo eu vou também diminuir todos os outros.

Eu queria voltar a confiar em você, sabe? Na verdade, não peço nada de extraordinário, mas se eu tivesse conhecido melhor as suas características, eu não teria permitido que você me machucasse tanto. Nunca vou esquecer quão insuportável é a dor que você me causou. Depois de tudo, o que tenho para lhe dizer é “muito obrigado”, por ter me ensinado algumas coisas.

“Quando você mantém algum ressentimento em relação a uma outra pessoa, você está se amarrando a essa pessoa ou situação, por uma ligação emocional que é mais forte que o aço. O perdão é a única forma de dissolver esse link e conseguir a liberdade”

– Catherine Ponder –

Eu aprendi que você não pode dar a alguém algo ele não quer receber. Você permitiu-se o luxo de me deixar isso muito claro.

Sim, hoje eu percebo que você era tão ruim para mim que me impediu de progredir por muito tempo.Como alguém disse uma vez: “o verdadeiro ódio é a abnegação, e o assassinato perfeito é sempre esquecido”. Eu não acho que atirar uma pedra para cima seja uma boa ideia, uma vez que ela pode cair na minha própria cabeça. Certamente isto não traz felicidade, e eu também não gostaria de acrescentar miséria à minha vida.

 

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Dizem que sangrar não dói, que é prazeroso, que é como se você se dissolvesse em óleo e passasse a respirar profundamente. A dor na alma de algum modo anestesia e, muitas vezes, você não se torna ciente do que está assumindo para si até que seja tarde demais.

Talvez eu esteja escrevendo isso com lágrimas de sangue e pura dor, mas eu estou tomando o controle do leme, porque eu decidi ir mais longe e superar o que você me provocou.

Devo dizer-lhe que eu escrevo isto porque por trás da minha coragem há também uma grande tristeza, uma humilhação infinita e uma delicada decepção. Eu me sinto acima de um vulcão, enquanto minha vida está por um fio, então eu tenho que largar a carga pesada e apagar o que você me ocasionou por dentro.

Eu preciso de muito pouco para estar bem e é por isso que essa dor e essa mágoa têm que sair de mim. A partir de hoje eu não vou mais guardar rancor ou raiva, eu não quero coisas desnecessárias em meu coração. Toda experiência dolorosa está fechada dentro de uma semente de crescimento e de libertação.

A realidade é que hoje eu me perguntei se poderia fazer algo que valesse a pena, então eu decidi escrever esta carta a quem me magoou, você. Ao contrário do que você possa pensar, esta carta não é para você, é para mim, porque eu preciso dela para liberar das minhas costas o peso deste fardo. Parei para pensar e decidi que eu não quero nada de negativo na minha vida, nenhuma mágoa, e eu percebi que aqui está você, tudo o que me fez, e a forma como eu me sinto.

Notei que libertar-me de você é o maior ato de amor próprio que eu poderia exercer. Hoje posso dizer que você está me fazendo um favor, porque agora, mais do que nunca, eu não quero que o meu corpo sirva de sepultura para a minha alma. Eu posso lidar com tudo o que está dentro de mim. Não tenho medo de viver, porque tudo o que tenho que fazer é que reaprender a ser feliz.

 

Fonte: http://amenteemaravilhosa.com/carta-me-magoou/

 

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