A capacidade de mentir faz parte do psiquismo humano. A gente sabe que uma criança está se desenvolvendo bem se, em algum momento, sua capacidade de mentir aparece. Não se trata de mentiras sérias, mas de pequenas coisas. A criança diz que já escovou os dentes ou que lavou os cabelos no banho, quando claramente não os fez, por exemplo.
O complexo de édipo é o tempo da vida de cada um onde a gente se aloja na subjetividade de alguém, primeiro, e então, se desaloja. Alienação e separação, em termos lacanianos. Para que o movimento de separação aconteça, é preciso que o Outro ao qual a criança se alienou num primeiro momento, consinta com a sua separação. A mentira pode ser um modo de se separar do Outro, ou, de verificar se se está mesmo separado.
Isso porque vivemos nossas relações primárias de modo a sentirmos nossos pais onipotentes, como se eles lessem os nossos pensamentos, já que cabe a eles a tarefa de “adivinhar” quando estamos com fome, sono, cólica etc, antes da aquisição da linguagem.
Depois, é preciso que a gente não se reduza ao lugar de falo para o Outro. É preciso desocupar o lugar do “sou da mamãe” que os babadores denunciam para o “ser de si mesmo”. Trata-se de tomar posse do próprio corpo.
Assim, espera-se que em algum momento, todo sujeito tenha a capacidade de mentir, que tenha a capacidade de se separar do Outro. Não para que se torne um mentiroso compulsivo ou patológico que causa transtornos na vida alheia (isso é da ordem da perversão e é outra coisa), mas para que saiba que, ali dentro de si, ninguém o encontra. É a garantia dos limites de
um corpo.
Talvez por isso, em alguns relacionamentos amorosos, os envolvidos exigljam que o outro diga a maior verdade possível, na tentativa de eliminar os limites do corpo, de fazer Um com o outro. Mas como disse Lacan, a verdade é não-toda. Há coisas que não podem ser ditas porque não há palavras para dizê-las. A linguagem não dá conta de tudo.
Por Ana Suy
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