A psicanálise, para mim, só é possível com a releitura que ele fez de Freud. Lacan vinha de uma época em que se colocavam muitas regras para a psicanálise, e ele rompeu com várias delas. Dos ensinamentos que ele fez ao longo de sua vida, um dos que mais me marcam é o dito “coloquem algo de si na psicanálise, não se identifiquem comigo, tenham seu estilo próprio, eu tenho o meu”. Isso é libertador. Lacan convida a cada um que se interessa pela psicanálise, a dar sua própria assinatura ao modo de fazê-la. Esse é o próprio fundamento da psicanálise, ser ético com o próprio desejo, se parecer consigo mesmo, inclusive no modo de psicanalisar.
Se a neurose nos empurra a um sofrimento onde a grama do vizinho é mais verde e queremos ter uma grama como a dele, estamos diante de uma paralisia. Para manter um ideal sem furos, copia-se. Nessa lógica, psicanalista não pode ter facebook, não pode usar aliança, não pode cumprimentar paciente com beijinho, tem que falar difícil, tem que falar lacanês, não pode responder mensagem de texto de paciente, não pode sorrir, não pode ter tatuagem, não pode, não pode, não pode.
E aí a gente cai naquele clichê ridículo do psicanalista mudo com cara de paisagem. No meu entendimento, isso é pura defesa. Quando não sabemos o que dizer é melhor ficarmos quietos. Mas isso não é coisa de psicanálise, é coisa da vida mesmo. Para além disso, o silêncio tem uma função, mas nem todo silêncio tem função. Tem silêncios que são puro vazio, e que é preciso quebrá-los, sim. Não todos. É preciso muita teoria e prática para saber diferenciá-los.
Não há um manual de como ser psicanalista. Por isso é preciso estudar tanto! E eu só posso agradecer a Lacan (estudando muito a sua teoria) por todas as contribuições que ele permitiu e continua permitindo nessa loucura que salva tanta gente, chamada psicanálise.
Ana Suy.
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